sábado, 31 de outubro de 2009

31 DE OUTUBRO: DIA DA REFORMA


"No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero afixou suas 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, Alemanha. Nelas, condenava os abusos do sistema das indulgências e desafiava a todos para um debate sobre o assunto. Uma leitura das 95 Teses revela que Lutero estava apenas criticando os abusos do sistema de indulgências, na intenção de reformá-lo. Entretanto, entre 1518 e 1521, ele foi forçado a admitir a separação do romanismo como a única alternativa para se chegar a uma reforma que significasse uma volta ao ideal da Igreja revelado nas Escrituras. A tradução para o alemão e a impressão das Teses divulgaram rapidamente as ideias de Lutero"(1).
Essa foi a culminância de um processo longo e doloroso, de muitos séculos, até Deus levantar um monge agostiniano, chamado Martinho Lutero, para a obra do que mais tarde seria chamado de Reforma Protestante.
Lutero, nascido no dia 10 de novembro de 1483, numa aldeia alemã chamada Eisleben, foi preparado por seu pai para estudar Direito. Porém, em julho de 1505, apanhado na estrada por uma pavorosa tempestade, quando viajava para a cidade de Erfurt, Lutero prometeu a Santa Ana que, caso sobrevivesse à fúria dos elementos, tornar-se-ia monge. Três semanas depois, entrava para o mosteiro da Ordem de Santo Agostinho, em Erfurt. Em 1507 foi ordenado e celebrou sua primeira missa - completamente atônito e perplexo diante da presença terrível do Deus Altíssimo. Aquela missa foi uma experiência excruciante para Lutero, atormentado diante da ideia de ele, um pecador, estar diante do Santo.
Em 1508 ensinou teologia na universidade de Wittenberg, recém fundada pelo Eleitor da Saxônia, o Príncipe Frederico. Nos anos 1510-11, foi enviado a Roma tratar de assuntos pertinentes à sua ordem. Lá, ficou estarrecido diante da devassidão da Igreja Romana. De volta a Wittenberg, tornou-se professor de Bíblia e recebeu o título de Doutor em Teologia. Estudando a Bíblia para preparar suas aulas, encontrou a doutrina da justificação pela fé. Estudando as línguas originais das Escrituras, percebeu a discrepância entre os ensinos católico-romanos e aquilo que a Bíblia realmente afirmava. Entendeu que somente na Palavra de Deus havia a verdadeira autoridade espiritual. A justificação pela fé e a sola Scriptura (o conceito segundo o qual a Bíblia é a única fonte de autoridade para o crente) tornaram-se os pilares de seu sistema teológico.
Quando em 1517 o padre Tetzel, representante do arcebispo Alberto, chegou em Jüterborg, cidade próxima a Wittenberg, vendendo indulgências, Lutero e seus companheiros resolveram protestar contra tal prática. Tetzel ensinava que o arrependimento dos pecados não era necessário para se obter o perdão de Deus, para quem comprasse uma indulgência. Isso levou Lutero a desafiar Tetzel e os defensores das indulgências a um debate acadêmico, afixando, como de costume, suas Teses na porta da igreja do Castelo. Mas então a providência soberana de Deus entrou em ação e os acontecimentos se precipitaram.
Apoiado por Frederico e mais tarde por outros príncipes alemães, Lutero escapou da fogueira e começou a publicar suas obras teológicas, enquanto enfrentava os ataques do catolicismo romano de sua época. Participou de debates, foi convocado para concílios, sempre escapando da morte graças a seus partidários influentes. Até que em 1520 o papa Leão X publicou sua bula Exsurge Domini ("Levanta-te, Senhor"), que veio a deflagrar a excomunhão de Lutero e a sua condenação como herege. Levado por seus amigos, contra a sua vontade, para o Castelo de Wartburg, onde permaneceu escondido até 1522, Lutero escapou da fúria assassina da Igreja Romana.
Enquanto Lutero, em seu "exílio" em Wartburg, aproveitava para traduzir a Bíblia para o idioma alemão, a fim de que o povo tivesse acesso às Escrituras - uma verdadeira revolução - seus companheiros reformadores não perdiam tempo. Em 1521 saiu a publicação da obra Loci Communes, de Filipe Melanchton, o primeiro tratado teológico da Reforma. Melanchton rejeitou a autoridade da Igreja Romana, dos "Pais" da Igreja, assim chamados, da lei canônica e do escolasticismo, e estabeleceu acima de todos a Bíblia como a autoridade final para os cristãos.
A Bíblia alemã de Lutero foi finalmente publicada em 1534. Foi a primeira Bíblia no vernáculo do povo da Alemanha, e serviu de marco para a padronização da língua.
Depois de Lutero viriam outros reformadores, dos quais os mais proeminentes foram Ulrich Zwinglio, João Calvino (ambos na Suíça) e John Knox (na Escócia).
Depois viriam os anabatistas e sua Reforma Radical, com Menno Simmons entre os líderes (os Irmãos Menonitas têm esse nome em sua homenagem), a Reforma Anglicana na Inglaterra (que começou pelo desejo do rei Henrique VIII de ter um filho homem: para isso, acreditava que precisava divorciar-se de sua esposa e desposar outra mulher, e para atingir seu objetivo deveria controlar a igreja da Inglaterra), os puritanos na Europa e depois rumando para a América do Norte, etc...
Muitas histórias, muitos nomes, muitos dramas humanos - todos eles convergindo para a libertação do povo da tirania religiosa e da ignorância bíblica. Foi um começo. Muitos protestantes foram também tirânicos e ignorantes. Mas a Bíblia estava, finalmente, à disposição de qualquer um que a desejasse conhecer. E o conhecimento liberta.
Hoje, quase 500 anos depois, precisamos refletir sobre o nosso papel no cenário religioso contemporâneo - precisamos de uma nova Reforma, que nos liberte da tirania dos mercenários religiosos e da ignorância de seus seguidores. Uma parcela significativa da igreja evangélica, neste alvorecer do século XXI, aparenta estar tão corrompida quanto o catolicismo romano do século XVI. Precisamos de novos Luteros, novos Calvinos, novos reformadores que tenham a coragem de se posicionar e de mostrar ao mundo, mais uma vez, o poder e a autoridade da Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada.
NOTA:
(1). CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1999. Pg. 235.

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