sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A PREGAÇÃO COM BASE NO ANTIGO TESTAMENTO: É MESMO NECESSÁRIA?



Introdução

Certo autor, ao descrever a importância do Antigo Testamento, intitulou sua obra de “o livro que Jesus lia”, não há dúvida em que todo o cristão já se deparou com a pergunta ao ler o livro de Número, por exemplo: “por que estou lendo isso” ou “no que isso será relevante para minha vida”. O antigo Testamento tem sido negligenciado nos púlpitos, isso porque alguns têm usado suas figuras para vender rosa, água e etc...

Levando alguns, a outro extremo, o de não pregar nele e sobre ele.

Cristo é descrito em cada livro da Antiga Aliança, exposto em cada cena graciosa, em cada geração que passa a esperança do messias que viria aumentava como a luz que surge na manhã.

A pregação no Antigo Testamento

Como vimos, o Antigo Testamento exerce primordial importância para a nossa compreensão de como se desenvolveu o Teísmo judaico-cristão. Como se desenrolou gradativamente a revelação do plano de redenção e como foram surgindo às doutrinas centrais encontradas no Antigo Testamento.

A pregação no Antigo Testamento ontem. Uma prática quase esquecida.

Quando leio obras como: Justino de Roma, mais conhecido por Justino o mártir, que de forma magistral, usa o Antigo Testamento não somente para defender a cristã, mas também para apresentar a Jesus o Messias a um grande mestre judeu de seu tempo chamado Trifão. Justino lembra a Trifão que não existe sabedoria maior que entre os profetas de Israel, pois esses mesmos profetas, e até mesmo o próprio Moisés falavam de um maior profeta futuro, de uma nova aliança que seria estabelecida, não como a aliança do Sinai, mas uma aliança em que Deus imprimiria a sua lei nos corações. E estamos falando de um homem que escreveu em torno de 150 d.C. e que usava amplamente o Antigo Testamento.

Mesmo estando no Século XVI, Calvino demonstra o Antigo Testamento de maneira encantadora, veja-se, por exemplo ‘As institutas’. Lutero olhando para Romanos 1.17. Descobriu que: “o Justo viverá pela , não esqueceu ele por certo, que o profeta Habacuque 2.4 havia dito isso, e que o próprio Abraão foi justificado pela sua . De forma arrebatadora leio o “velho Hodge”, “o antigo Strong”, o “esquecido Bavinck”. Todos eles através de sua erudição conquistaram prestigio, e através de sua o Reino eterno, deixando-nos a responsabilidade de sermos Cristãos de uma Bíblia completa, e de uma tarefa inacabada, apresentar Cristo a todos, ao gentio que não sabe nada do Deus único e ao judeu estudioso da Torah. todos precisam compreender o evangelho, o evangelho da salvação pela no Ungido de Deus, descrito em todo o Antigo Testamento, e revelado no Novo Testamento.

A pregação no Antigo Testamento hoje. Uma necessidade que precisa ser redescoberta.

Por mais incrível que pareça atualmente o Antigo Testamento está sendo Deixado de lado. Raramente ouço mensagens com base no Antigo Testamento, e quando as ouço, são na grande maioria das vezes mensagens sem sentido, quando não ‘erradas’. E isso, falo a nível nacional.

Não deveria ser assim, mas o que pude constatar é que; com o passar do tempo, com o avanço da tecnologia e do conhecimento e comodidade, na facilidade que se tem de adquirir conhecimento, o povo e não somente o povo, mas o que é mais trágico, os “ministros” têm se esquivado do estudo sério das Escrituras, em especial o Antigo Testamento, daí ouvirmos absurdos, tais como os que dizem que Deus não saberia qual seria a atitude de Abraão, por isso Ele provou a Abraão pedindo Isaque em holocausto, há ainda aqueles que logo após as Tsunamis em 2004 na Indonésia, taxaram Deus de impotente por não impedir desastres, mas o desastre é que essas declarações não são de ateus ou críticos do cristianismo, mas de cristãos, e pior, de líderes, poderia ainda falar de muitos outros casos, mas creio que me estenderia demasiadamente tratando desse aspecto da soberania e onipotência de Deus, tão amplamente ensinados no Antigo Testamento. Poderia fazer menção daqueles que trazem elementos ritualísticos do judaísmo para dentro do cristianismo

Tudo isso é um reflexo da tendência mundial, que está muito em voga hoje, que é: ‘desprezar a teologia tradicional’, com todos os seus elementos bíblico-históricos, com isso vemos a crescente onda de relativismo teológico e moral a que passa a igreja mundial hoje.

No presente a ‘Teologianão é mais uma teologia, mas transformou-se numa ‘antropologia’, pois o foco de tudo não é mais a Deus e sua soberania. Mas o homem e “seus direitos”, e essa antropologia que tem sido ensinada e pregada trouxe do túmulo velhas heresias a muito esquecidas na outra América, como a teologia do processo ou teologia relacional, abraçada por pessoas que tem muito destaque na mídia evangélica, sem falar na crescente no universalismo.

Não é somente o Antigo Testamento que tem sido banido de nossas cátedras e de nossos púlpitos, mas a Bíblia como um todo, tem sido desprezada, a doutrina está sendo trocada pelarevelação”, nunca antes se viu uma geração tão ignorante com referencia a Bíblia como a nossa atual geração. Desde que Gutenberg deu a Bíblia ao povo, nunca se viu tanto o povo sem Bíblia.

Entre os fatores primordiais para a exclusão do Antigo Testamento dos púlpitos, eu poderia citar, a falta de conhecimento do mundo antigo, costumes e das épocas em que os livros foram escritos, levando em consideração que estamos separados por milênios dos acontecimentos registrados, há também o abismo dos costumes por se tratarem de um povo oriental, muitas vezesincompreensões de fatos históricos e, ainda imprecisão do idioma hebraico que tem contribuído para diferenças nas traduções, no entanto a falta de preparo teológico por parte dos “ministros” tem sido de longe, o maior motivo para o banimento do Antigo Testamento.

A pregação no Antigo Testamento amanhã. Uma tarefa monumental.

A pregação tendo como base o Antigo Testamento é muito importante, e necessária; como falei, o Antigo Testamento nos apresenta o pecado do homem, e a impossibilidade de haver alguém sem pecado. Quando nos deparamos com o sacrifício levítico, nos aparatos do tabernáculo e posteriormente do templo. Impossível é não pensarmos em Jesus, o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, que como cordeiro mudo foi levado pelos seus tosquiadores, aquele Messias, rei pobre, que o profeta Zacarias descreve entrando em Jerusalém, que na cruz nós o reputávamos por aflito e ferido de Deus, aquele de quem os homens virariam o rosto e zombando diriam nas palavras descritas por Davi no Salmo 22: “confiou em Deus, que o livre”.

Daniel disse que Ele seria retirado da terra, realmente importava que o Messias devesse morrer, mas o túmulo não teve poder para segurá-lo, nem mesmo os melhores soldados de elite do mundo puderam o fazer continuar na sepultura e, o Salmo 24 irrompe em alegria em descrever suas exaltações nas maiores alturas celestiais: “Levantai, ó portas, os vossos frontões, elevai-vos, antigos portais, para que entre o rei da glória! Quem é esse rei da glória? É Iahweh, o forte e valente, Iahweh o valente das guerras. Levantai, ó portas os vossos frontões, elevai-vos, antigos portais, para que entre o rei da glória! Quem é esse rei da glória? É Iahweh dos Exércitos: ele é o rei da glória!”.

Por isso Devemos nos voltar mais para o Antigo Testamento para melhor entender o plano de redenção, a nossa situação, nossa salvação e nosso futuro. É mister que voltemos a usar o Antigo Testamento com a seriedade e sobriedade que ele merece, para ensinar a essa geração que não de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.

Conclusão

A pregação tendo como base o Antigo Testamento é de particular importância para o cristianismo, pois é a preparação para o Novo, e traz as mesmas verdades, de forma mais velada. Quando Spurgeon preparou uma série de sermões sobre os salmos, ele intitulou-os de “os tesouros de Davi”, o Antigo Testamento é um Tesouro disponível a nós e nosso povo, que se abra então o livro sagrado do antigo pacto e ensinado sobre a graça que pairava sobre a igreja do Antigo Testamento.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

CRISTIANISMO E PANDEMIA



Relendo as notas de uma resenha que fiz do livro O Crescimento do Cristianismo: um sociólogo reconsidera a história(1), de Rodney Stark, à luz dos acontecimentos recentes, especialmente da “gripe suína” ou “gripe A”, causada pelo vírus H1N1, que tanta preocupação tem causado a todos nós, meu interesse renovou-se pelo trecho da referida obra que trata do comportamento da Igreja durante algumas das maiores catástrofes que já se abateram sobre a raça humana. Stark deixa claro, por meio de sua pesquisa histórica e sua análise sociológica, que os cristãos desde cedo estabeleceram fortes vínculos com os pagãos do Império Romano, inclusive nos períodos históricos menos favoráveis. Pois alguns desses períodos foram marcados por verdadeiras calamidades, as epidemias, que dizimaram a população do Império, vitimando pagãos e cristãos indistintamente, mas dando a estes últimos oportunidades fantásticas de crescimento e aumento de influência, ao mesmo tempo em que enfraqueceram sobremaneira os primeiros, expondo suas deficiências e fragilidades.

No ano de 165, durante o reinado de Marco Aurélio, uma peste mortal assolou o Império Romano, fazendo perecer cerca de um terço ou um quarto da população! Então no ano 251 outra epidemia abateu-se sobre o Império, castigando as áreas rurais tão duramente quanto as cidades. Varíola pode ter sido a primeira; sarampo, a segunda. O que quer que tenham sido, foram nada menos que letais para populações que jamais haviam sido expostas anteriormente a essas doenças, e que foram pegas sem qualquer defesa, seja biológica seja científica, contra elas. Extensas áreas de terras ficaram desabitadas, cidades inteiras pereceram. Para aquela gente indefesa, deve ter parecido o fim do mundo. Na segunda epidemia, a melhor documentada (especialmente por escritores cristãos), calcula-se que 5 mil pessoas tenham morrido diariamente somente na cidade de Roma! O número de mortos deve ter sido ainda maior nas áreas rurais – os campos ficaram desertos e a fome começou a ameaçar uma população já subjugada pela peste. Os pesquisadores acreditam que na cidade de Alexandria podem ter perecido dois terços da população. Se não era o fim do mundo, era com certeza um cartão de visitas do mesmo.

Tais crises, por incrível que pareça, fortaleceram ainda mais o Cristianismo. De fato, a cosmovisão pagã praticamente colapsou em conseqüência da terrível mortandade. Em primeiro lugar, a religião dominante não conseguia explicar satisfatoriamente o que estava acontecendo. Em segundo lugar, os deuses pagãos mostraram-se impotentes e incompetentes para deter a calamidade. Os sacerdotes professavam a ignorância, sem saber se os deuses haviam enviado a tragédia, ou se estavam mesmo envolvidos, ou se estavam ao menos preocupados. Os filósofos não ofereciam respostas, simplesmente creditavam tudo ao acaso, enquanto incoerentemente censuravam a licenciosidade e caducidade do mundo romano. Além disso, uns e outros, bem como a maioria dos pagãos, fosse qual fosse seu nível de instrução, só tinham uma resposta diante da crise: a fuga e o abandono de seus patrícios enfermos. As cidades enchiam-se de mortos. Quem podia, ia embora – como fez o famoso médico da Antigüidade, Galeno, que fugiu apressadamente de Roma, no início da epidemia, para a segurança relativa de sua propriedade rural. A fuga – essa foi a atitude do maior médico de sua época. Quando tornou-se óbvio o caráter contagioso da peste, as pessoas pararam de visitar-se e de acudir aos seus parentes e amigos doentes, simplesmente abandonando-os à própria sorte. As casas ficavam repletas de cadáveres, famílias inteiras morriam sem receber qualquer auxílio. Os corpos eram jogados nas ruas e estradas, empilhados, sem sepultamento digno. Até mesmo os templos enchiam-se de cadáveres. Numa situação dessas, aquela pobre gente começou a descrer de tudo – não fazia diferença crer ou não crer nos deuses, quando se via tanto infortúnio e desespero. O próprio Imperador Marco Aurélio, o Filósofo, seguidor do estoicismo, morreu vitimado pela doença. Era a ruína do sistema de crenças romano, que tombava diante da amplitude e da brutalidade da tragédia.

Mas a reação cristã foi completamente diferente. Os cristãos lançaram-se numa empreitada que para os gregos e romanos parecia loucura rematada – eles simplesmente prestaram auxílio aos doentes, ficaram junto deles, os alimentaram, cuidaram deles, muitas vezes à custa da própria vida. De fato, incontáveis discípulos de Cristo tombaram justamente por entrar em contato com os enfermos – incluindo não poucos líderes e cristãos de renome.

Ocorre que os cristãos estavam simplesmente colocando em prática a doutrina que professavam. Com efeito, Deus demonstrara seu amor por meio do sacrifício, e os seres humanos deveriam demonstrar seu amor mediante o sacrifício de uns pelos outros, independentemente de laços familiares, sociais, culturais, nacionais ou religiosos.

E por incrível que pareça, a atitude cristã de aproximar-se dos enfermos e moribundos para ajudá-los fez com que a taxa de mortalidade dos cristãos começasse a diminuir consideravelmente, se comparada à taxa de mortes entre os pagãos. É que muitos cristãos, ao ajudar os enfermos no início das epidemias, adoeciam, porém sobreviviam porque eles por sua vez também recebiam apoio de seus irmãos na fé. E esses cristãos sobreviventes acabaram formando uma “força-tarefa” de obreiros imunes à doença, preparados para ajudar outras pessoas. Além disso, como haviam muito mais pagãos do que cristãos, obviamente morriam muito mais pagãos do que cristãos. Tudo isso era visto como simplesmente milagroso pelos pagãos – os cristãos ajudavam os enfermos quando todos os outros fugiam; os cristãos não se importavam de perder a vida, sacrificando-a em prol dos enfermos, enquanto os pagãos abandonavam seus parentes moribundos para que morressem à míngua; e muitos cristãos não somente sobreviviam à peste, como ainda por cima tornavam-se imunes a novos contágios – simplesmente não adoeciam mais. Pagãos e cristãos só tinham uma palavra para explicar tudo isso: milagre!

Mas, que tipo de ajuda aqueles cristãos abnegados poderiam oferecer? Simplesmente oferecendo alimento e água, poderiam fazer com que pessoas enfraquecidas pela enfermidade pudessem recobrar as forças e resistir, em vez de morrer simplesmente de inanição, abandonadas à própria sorte. Especialistas em medicina acreditam que um atendimento consciencioso, sem nenhuma medicação, poderia reduzir a taxa de mortalidade em cerca de dois terços ou até mais. Além disso, os cristãos oravam pelos enfermos.

Isso nos leva a outro nível de oportunidade – o contato direto com os pagãos, estabelecendo novos e poderosos vínculos pessoais. Ora, depois das epidemias, muitos pagãos deviam suas vidas e as vidas de seus familiares e amigos aos cristãos. Além de formar novos vínculos e redes de relacionamentos com os cristãos, os pagãos agora viam-se diante de uma nova situação social, na qual seus antigos vínculos com outros pagãos haviam desaparecido, em sua maioria – porque aqueles outros pagãos simplesmente já não existiam mais. Antes, a maioria absoluta de seus vínculos era com outros pagãos – agora, pelo menos metade desses vínculos estava firmemente estabelecida com cristãos. E quantos pagãos converteram-se durante a enfermidade, em seus leitos, enquanto eram carinhosamente tratados pelos seus vizinhos cristãos?

Se essas terríveis crises não tivessem ocorrido, o Cristianismo teria sido privado de importantes oportunidades de crescimento e fortalecimento. Essas pestes mortíferas envenenaram o paganismo, apressando sua queda, ao revelar duramente sua incapacidade para enfrentar tais crises, social ou espiritualmente – incapacidade tornada ainda mais evidente pelo exemplo de auto-sacrifício de seu ousado adversário. A maioria dos pagãos sobreviventes percebeu claramente tudo isso. E quando a poeira baixou, os pagãos viram seus vínculos com os cristãos significativamente aumentados, de modo pleno e irreversível.

Há muito a aprender com a atitude corajosa e abnegada de nossos irmãos do passado. Eles abriram mão da própria segurança, e muitas vezes da própria vida, para viver a sua fé, para demonstrar seu Cristianismo, seu amor pelas pessoas. Dois mil anos passados, a situação atual de nossa sociedade ocidental é, curiosamente, muito parecida com a daquela época e lugar. Temos um “paganismo” florescente em nosso jardim pós-moderno, pós-cristão, neopagão. As pessoas não crêem em coisa alguma e crêem em tudo. O povo está cansado de depositar suas esperanças e aspirações em antigas crenças (quase como o sentimento dos antigos pagãos em relação a seus deuses) e está desejoso de experimentar coisas novas. Há uma crença sincrética – crê-se um pouco em tudo – e descomprometida – hoje correm atrás de um santo católico, amanhã fazem oferendas a entidades afro – bem ao estilo da antiga concepção pagã de religiosidade. Estamos testemunhando, diante de nossos olhos, a evolução de uma espécie de “mercantilismo religioso”, e o mercado está em alta! Há muita demanda e grande e variada oferta. A espiritualidade é mais um objeto de consumo. Hoje consome-se meditação transcendental, amanhã será consumida uma reunião num centro espírita, e depois de amanhã que tal uma reunião numa igreja católica ou evangélica?

O cristianismo, dentro do contexto atual, terá uma oportunidade semelhante à que teve no antigo Império Romano? Como a Igreja está se portando, por exemplo, nestes tempos de pandemia? Nosso Cristianismo está aparecendo – ou estamos nos escondendo uns dos outros como fizeram os antigos pagãos? Em meio a tantas crenças e ao mesmo tempo descrenças que caracterizam nossa época, teria a fé cristã impacto semelhante ao que teve no paganismo clássico? Nossa atitude diante dessa pandemia, resguardadas as devidas proporções, irá honrar nossos antepassados espirituais? Em meio à desinformação, ao medo, ao desinteresse e falta de compromisso que caracterizam nosso tempo, o que o Cristianismo tem a oferecer?

Antes de responder a essas perguntas, precisamos nos lembrar de que o Cristianismo, hoje, não é mais uma novidade. E há agravantes: precisamos olhar para o que muitos grupos, muitos indivíduos e muitas seitas que se auto-intitulam cristãs fizeram e têm feito para desacreditar a fé cristã. Há grupos cristãos (?) que nada mais têm feito perante a sociedade contemporânea, do que desacreditar e ridicularizar o cristianismo. Hoje a igreja cristã tem um desafio talvez até maior do que a igreja primitiva. Não estamos sendo lançados às feras, mas estamos sendo quase que diariamente expostos a escândalos promovidos por “cristãos” de todos os tipos que envergonham a mensagem do evangelho e a tornam praticamente inócua, ao impermeabilizar o povo contra a igreja e a Palavra de Deus.

Nosso coliseu, nossa arena atual, é o picadeiro de um circo de perversidades, blasfêmias, roubalheiras, arrogâncias e multidões de pecados expostos publicamente sem o menor sinal de arrependimento, tudo patrocinado por “cristãos” que buscam a glória de si mesmos acima de tudo. A grande doença que precisamos enfrentar hoje em dia é a doença do falso evangelho e do falso cristianismo que está se disseminando pelo mundo. A igreja cristã está perdendo rapidamente sua credibilidade perante uma sociedade mundanizada, cansada de assistir a semelhantes espetáculos da mais pura degradação religiosa. “Apóstolos” (apóstolos!!!), bispos, pastores, crentes famosos, todos unidos na demonstração mais falsa, cruel e mentirosa – uma caricatura grotesca do verdadeiro Cristianismo.

Temos uma sociedade cada vez mais pagã que adota uma religiosidade utilitária, pós-moderna e relativista. Temos uma igreja que assumiu o rótulo de “evangélica” cuja reputação está cada vez mais manchada pela ação incessante e implacável de falsos mestres. (Os “verdadeiros” mestres, em sua grande maioria, não denunciam os impostores, porque preferem ser politicamente corretos – pós-modernos, portanto – do que biblicamente corretos).

A aplicação prática de tudo o que li em O Crescimento do Cristianismo foi que nós, como Igreja cristã, não podemos perder nosso testemunho, nossa identidade, nossa missão no mundo. Precisamos continuar cuidando dos enfermos! Precisamos continuar nos arriscando! Precisamos continuar perdendo tudo para ganhar nosso próximo para Cristo! Se o sal perder seu sabor, para que servirá? Se a candeia for deixada sob o alqueire, como iluminará? Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte. A Igreja cristã precisa reassumir sua missão – missão integral – de ir por todo o mundo fazendo discípulos de Jesus Cristo, para a glória de Deus, honrando o evangelho e tendo atitudes dignas do corpo de Cristo. Individualmente, como cristãos herdeiros de uma vasta e preciosa tradição, precisamos honrar a nossa fé e viver de acordo com ela. Se não estamos sendo “perseguidos” de algum modo – zombarias, críticas, ataques pessoais, por exemplo – precisamos, quem sabe, reavaliar nosso compromisso com Cristo e o tipo de vida cristã que estamos vivendo... este mundo está apodrecendo e precisamos salgá-lo. Este mundo está doente e precisamos restaurá-lo!

Por outro lado, vemos muitas denominações completamente indiferentes à herança histórica do cristianismo. Desejosos de “reinventar a roda”, simplesmente não tomam conhecimento do verdadeiro tesouro que constitui o legado patrístico, o legado dos mártires, o legado de grandes pensadores como Agostinho, Tomás de Aquino, o legado dos reformadores, como Lutero, Calvino e tantos outros. Nenhuma religião produziu mentes tão brilhantes quanto o Cristianismo. Que tremendo desperdício não usufruir de suas conquistas! Onde a pregação de Cristo surgiu, surgiram as universidades, os hospitais, as melhorias sociais e culturais, os grandes centros do saber. Uma das maiores tragédias de nossos dias é ver o total descaso – e mais, uma verdadeira atitude de franca hostilidade – para com aqueles que amam e respeitam a tradição cristã genuína, histórica, bíblica e teológica. Até parece que para ser “bíblico” é preciso ser ignorante... um povo que esquece seu passado tem muito pouco a esperar de seu futuro. Como cuidaremos dos enfermos, se não sabemos mais como proceder? Precisamos olhar para os nossos irmãos do passado, que não tiveram por preciosas suas vidas, para auxiliar as pessoas colhidas por tão pavorosa praga.

Este mundo está esperando que os cristãos se levantem como no passado, para causar impacto novamente – mas o impacto sadio, maravilhoso e admirável de um Cristianismo sério, vivo e bíblico.

Os enfermos esperam por nós!

NOTA:

(1). STARK, Rodney. O Crescimento do Cristianismo: um sociólogo reconsidera a História. São Paulo: Paulinas, 2006.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

QUEM FORAM OS VERDADEIROS APÓSTOLOS DE TODOS OS TEMPOS SEGUNDO O NOVO TESTAMENTO

Franklin Ferreira e Alan Myatt, teólogos batistas (o primeiro brasileiro, o segundo norte-americano), assim descrevem o ofício apostólico:

“Os Apóstolos – pessoas comissionadas especialmente por Cristo para formular e propagar o evangelho. Seu comissionamento era feito diretamente por Cristo, e suas prerrogativas apostólicas, comprovadas por sinais miraculosos (Gl 1.1,2; 1Co 9.1; 2Co 12.12). Neste sentido, ‘a função dos apóstolos foi única e irrepetível: eles receberam a Revelação, que é o sentido e a mensagem da igreja’ (Edmund Clowney, “A Igreja”. São Paulo: Cultura Cristã, 2007).” (1)

Louis Berkhof, famoso teólogo norte-americano do século passado, assim escreveu em sua Sistemática:

“Apóstolos. Estritamente falando, este nome só é aplicável aos doze escolhidos por Jesus e a Paulo. (...) Os apóstolos tinham a incumbência especial de lançar os alicerces da igreja de todos os séculos. Somente através das suas palavras é que os crentes de todas as eras subsequentes têm comunhão com Jesus Cristo. Daí, eles são os apóstolos da igreja dos dias atuais, como também o foram da igreja primitiva. Eles tinham certas qualificações especiais: (a) foram comissionados diretamente por Deus ou por Jesus Cristo, Mc 3.14; Lc 6.13; Gl 1.1; b) eram testemunhas da vida de Cristo e, principalmente, de Sua ressurreição, Jo 15.27; At 1.21,22; 1Co 9.1; c) estavam cônscios de serem inspirados pelo Espírito de Deus em todo o seu ensino, oral e escrito, At 15.28; 1Co 2.13; 1Ts 4.8; 1Jo 5.9-12; d) tinham o poder de realizar milagres e o usaram em diversas ocasiões para ratificar a mensagem, 2Co 12.12; Hb 2.4; e e) foram ricamente abençoados em sua obra, como sinal de que Deus aprovava seus labores, 1Co 9.1,2; 2Co 3.2,3; Gl 2.8.” (2)
A seguir, apresento um breve resumo da discussão de Wayne Grudem sobre o ofício apostólico, em sua Sistemática.

“Quando o termo ‘apóstolo’ refere-se a um ofício especial, refere-se àqueles homens que receberam um tipo singular de autoridade na igreja primitiva: autoridade para falar e escrever palavras que eram ‘palavras de Deus’ em sentido absoluto. Não acreditar neles ou desobedecer a eles era o mesmo que não acreditar em Deus ou desobedecer a Deus. Atualmente, porém, ninguém pode acrescentar palavras à Bíblia e tê-las na conta de palavras de Deus. Não há mais apóstolos hoje e nem devemos esperar mais nenhum apóstolo. A razão disso baseia-se no ensino do Novo Testamento a respeito das qualificações apostólicas e da identidade dos apóstolos. Para alguém ser apóstolo, era necessário: 1) ter visto Jesus Cristo após a ressurreição (ser testemunha ocular da ressurreição), At 1.2,3,22; 4.33; 9.5,6; 26.15-18; 1Co 15.5-9; 2) ter sido especificamente comissionado por Cristo como seu apóstolo, Mt 10.1-7; At 1.8, 24-26; 26.16,17; Rm 1.1; Gl 1.1; 1Tm 1.12; 2.7; 2Tm 1.11.” (3)

Há um parágrafo de Grudem que transcrevo na íntegra:

“Embora alguns hoje usem a palavra apóstolo para referir-se a fundadores de igrejas e evangelistas, isso não parece apropriado ou proveitoso, porque simplesmente confunde quem lê o Novo Testamento e vê a grande autoridade ali atribuída ao ofício de “apóstolo”. É digno de nota que nenhum dos grandes nomes da História da Igreja – Atanásio, Agostinho, Lutero, Calvino, Wesley e Whitefield – assumiu o título de ‘apóstolo’ ou permitiu que o chamassem apóstolo. Se alguns, nos tempos modernos, querem atribuir a si o título ‘apóstolo’, logo levantam a suspeita de que são motivados por um orgulho impróprio e por desejos de auto-exaltação, além de excessiva ambição e desejo de ter na igreja mais autoridade do que qualquer outra pessoa deve corretamente ter”. (Página 764).

Alguns pontos que gostaria de destacar:

1 – Os apóstolos eram nomeados (comissionados) pelo próprio Jesus Cristo em pessoa, em carne e osso, diretamente e sem intermediários;

2 – Para ser apóstolo, era conditio sine qua non ter visto Jesus Cristo ressuscitado dentre os mortos – era requisito indispensável ser testemunha ocular da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo;

3 – Em dois mil anos de História da Igreja, ninguém jamais ousou assumir para si mesmo o título de apóstolo, nem jamais permitiu que outros assim lhe chamassem (a única exceção, possivelmente, são os papas, e num certo sentido, nem mesmo eles se autoproclamam “apóstolos” no sentido neotestamentário).

Portanto:

1 – Jesus Cristo virá em pessoa, em carne e osso, diretamente, em sua Segunda Vinda. Ninguém em sã consciência e à luz da Bíblia pode querer argumentar ter tido uma “entrevista” com Jesus Cristo em pessoa e ter sido designado diretamente por Ele como apóstolo, profeta, ou seja lá o que for;

2 – Ninguém pode preencher a exigência de ter testemunhado a vida, morte e ressurreição de Cristo, simplesmente porque esses fatos ocorreram há dois mil anos;

3 – Francamente, não creio que aqueles que hoje em dia proclamam a si próprios “apóstolos” com tão descarada audácia, cheguem aos pés de homens como Atanásio, Agostinho, Anselmo, Tomás de Aquino, Martinho Lutero, João Calvino, Ulrich Zwinglio, Menno Simmons, Jonathan Edwards, George Withefield, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, John Stott, Billy Graham e tantos outros (homens dos quais o mundo não era digno, como diria o autor de Hebreus), e destes, nenhum ousou sequer cogitar a possibilidade de proclamar-se “apóstolo”. Nem mesmo Timóteo jamais foi chamado apóstolo, e jamais ousou exigir para si semelhante título!

4 – Como foi dito por Berkhof e Ferreira, os apóstolos do Novo Testamento são os apóstolos da igreja de todos os tempos; isto é, a igreja atual ainda tem seus apóstolos, ou melhor, o ensino deles, nas páginas do Novo Testamento. Eles são nossos apóstolos atuais, como o foram da igreja primitiva. Não precisamos de “novos apóstolos”! Veja 1Jo 1.3.

Impossível, portanto, deixar de concluir que aqueles que nos tempos atuais exigem para si mesmos ou para outrem o título de “apóstolo”, o fazem bem de acordo com a afirmação de Wayne Grudem, citada acima.
NOTAS:
(1). FERREIRA, Franklin, e MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007.
(2). BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Campinas: Luz para o Caminho, 1990, p. 589. (Este livro está sendo publicado atualmente pela Editora Cultura Cristã).
(3). GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática, atual e exaustiva. São Paulo: Vida Nova, 1999. (Reimpresso várias vezes, as atuais reimpressões vêm acompanhadas de um CD-ROM).